Archive for Setembro, 2008

Caronas

Setembro 25, 2008

 

Eu tinha que ir para uma cidade a uns quinze quilômetros daqui chamada Cassino e o único modo era ir de ônibus.  Quando estava saindo Rita me disse:

– Eu tenho que dar uma saída agora e te dou uma carona até o ponto de ônibus.

Realmente o ponto era um pouco longe para ir a pé. Chegando ao ponto ela comentou:

– O problema é que eu não sei se tem ônibus pra Cassino a essa hora. Pergunta ali naquela loja se ainda passa algum hoje.

Eu atrevessei a rua, entrei na loja e perguntei. O vendedor confirmou que tinha um mas não sabia o horário. Quando saí da loja ouvi Rita gritar desesperadamente do outro lado rua:

– Rodolfo! Vem logo! Rodolfo.

Pensei que o ônibus estivesse vindo e atravessei. Ela apontava para um carro parado a uns quinze metros à frente e gritava:

– Entra naquele carro, ele vai te levar para Cassino.

Na hora deduzi que era algum conhecido dela que me daria uma carona. Me aproximei do carro e abri a porta. A senhora que estava sozinha no carro me olhou assustada e disse “Feche a porta!”. Eu olhei para Rita que estava longe e gritando “Entra no carro!”, e a senhora falava “Quem e você? Feche a porta!”.

Eu fechei a porta e Rita se aproximou, tornou a abrir a porta e começou a explicar:

– Oi Angelena, esse é um amigo meu brasileiro, você pode dar uma carona pra ele até Cassino?

– Ah, então é isso. Claro que sim, entre – respondeu a senhora que dirigia o carro.

Eu entrei no carro e Rita me perguntou:

– Mas por que você não falou pra ela que você me conhecia!?

– Porque eu achei que você já tinha falado com ela!

– Não, eu vi ela passando e como sabia que ela estava indo para Cassino, fiz sinal para ela encostar.

 

No final das contas tudo se resolveu. Eu me desculpei com a senhora do carro pelo mal entendido e ela por sua vez também se desculpou. Cheguei rápido em Cassino e a agradeci pela carona.

 

A moral da história é que eu descobri finalmente que sou confuso assim por causa da descendência italiana.

Caminhada nas montanhas

Setembro 18, 2008

 

Era uma segunda-feira e eu tinha acabado de acordar quando Rita me chama de lá de baixo. Eu desço e ela me fala “Daqui a pouco vou fazer uma caminhada até o topo da montanha, você quer vir comigo?”. Essa região é rodeada por belíssimas montanhas e achei que seria interessante conhecer mais os arredores. Aceitei. Ela me disse também para levar uma garrafa de água pois andaríamos bastante.

Fomos até o pé da montanha de carro e estacionamos. A partir daquele ponto só era possível seguir a pé ou com um carro com tração nas quatro rodas. Começamos a subir. A paisagem era realmente fantástica, com muitas árvores e encostas rochosas.

Estávamos em pleno verão e já andávamos a mais de uma hora debaixo do sol do meio dia, quando a Rita começa a falar:

– Olha, se eu começar a passar mal não precisa ter medo. É só ligar para o Rocco que ele vem nos buscar.

– Mas por que você está falando isso, está se sentindo mal?

– Não, nada de mais. Minha cabeça está girando e estou um pouco tonta.

– Meu Deus! Mas como eu vou ligar, os celulares não pegam aqui!

– Ah, não pegam?

Eu estava com dois celulares de companhias telefônicas diferentes, e nenhum tinha sinal.

– Não! Não consigo telefonar daqui.

– Ah, tudo bem. Então é só você me deixar em algum lugar na sombra, e coloca alguma coisa pra eu apoiar a cabeça, e vai até um lugar que pegue sinal.

Se aquela mulher tivesse um troço eu estava perdido. Eu não consegueria descer três quilômetros de montanha com ela desmaiada nas minhas costas, e para eu buscar socorro precisaria de ao menos duas horas.

– Não, vamos voltar agora – eu disse.

– Não tem problema, não vai acontecer nada.

– Mas você não está se sentindo bem!

– Não é nada, vamos continuar.

– É melhor voltarmos.

– Eu vou continuar. Se você quiser fique aqui sentado e me espere voltar.

Eu fui junto com ela. Andamos mais uma hora e depois descemos. Graças aos céus não aconteceu nada, mas com certeza eu vou pensar melhor antes de aceitar os convites de passeio dela.

Crise de Identidade

Setembro 16, 2008

 

Estava eu tranquilamente ao computador quando ouço lá embaixo a Rita gritando:

– Giovanni! Giovanni! Oh Giovanni!

Normal ela berrar desse jeito quando passa algum conhecido aqui em frente da casa. Continuei fazendo o que estava fazendo. Alguns segundos depois ouço mais berros:

– Mario! Oh Mario!

Talvez fosse algum outro parente que passava de carro e ela estava cumprimentando. Mais uns segundo e torno a ouvir:

– Luigi! Luigi! Vieni qua Luigi!

Comecei a achar que tinha alguma coisa errada. Então finalmente ouço:

– Rodolfo! Oh Rodolfo!

Na hora desci pra ver o que ela queira, então ela olha pra mim com cara de brava e diz:

– Eu estou te chamando a um tempão, por que você não veio antes?

– Mas eu só ouvi você me chamar agora.

– Não, eu te chamei várias vezes.

– Eu ouvi você chamando outros nomes, mas “Rodolfo” você só disse agora!

– É que eu não lembrava seu nome! Então comecei chamar os nomes que eu lembrava!

 

Parece piada, mas é verdade. Infelizmenta a mais pura verdade.

 

Sai o Jhonny, entra a Rita

Setembro 11, 2008

 

Como eu já contei em alguns posts por aqui, eu morava com um tiozinho doido chamado Jhonny. Ele fazia coisas absurdas e tinha vezes que não falava coisa com coisa. Até que ele foi embora para Inglaterra e eu achei que meu nível de sanidade mental voltaria ao normal. Só achei.

Agora sou vizinho e inquilino de Rita, uma tiazinha mais doida ainda. Ela é o estereotipo de uma senhora italiana e praticamente me adotou como filho. Até quando eu saio de noite e volto de madrugada fica brava.

Nascida e criada aqui no interior não tem muito estudo e é um pouco, digamos, ignorante. Já me perguntou se o Brasil era perto da China e depois se era na Europa. Nunca lembra meu nome e a maior parte das vezes me chama de Vladimir, que é o nome do jardineiro ucraniano que vem aqui uma vez por semana.

Também nunca acerta o país de onde vim. É comum ela vir pra fazer perguntas do tipo “Tem melancias lá na Romênia?” ou então “Na Tunísia vocês têm prédios com elevadores?”.

Isso tudo só confirma que eu cada vez mais atraio loucos.

Pão Italiano

Setembro 8, 2008

 

Para os italianos pão bom é pão duro. Não por que estar velho mas sim porque esse é o tipo dele mesmo. O famoso pão italiano, que aqui é conhecido como “pão”.

Se você consegue engolir mastigando somente três ou quatro vezes não é de qualidade. Tem que ter a casca tão dura que esfola o céu da boca e o miolo denso como uma esponja de banho. Nada de pãozinho de 50g, os pães são tão grandes que dá pra alimentar uma família de quatro pessoas por uma semana.

 

Aqui uma refeição sem pão não é refeição. Seja no café da manhã, almoço ou jantar. Depois de comer o macarrão com garfo e colher, faz-se a “scarpetta”. Que nada mais é passar pedaços de pão no prato para aproveitar o molho de tomate que restou.

Até mesmo pra fazer os sanduíches eles usam pães como a ciabatta que é igualmente dura, mas tem o formato mais achatado e alongado. Um lanche natural de peito de peru aqui é duplamente light, pois as poucas calorias que você ingere da carne branca já gasta imediatamente mastigando.

É nessas horas que me dá saudade de entrar numa padaria e pedir um gorduroso x-tudo no pão francês.